Ao final do II Congresso Internacional do CRI2i (Centre de Recherches Internationales sur l’Imaginaire), em Porto Alegre, no dia 31 de outubro de 2015, foi lançado o “Manifesto de Porto Alegre”, cuja íntegra traduzida do francês pelo Grupo Imaginalis aqui se apresenta. Este manifesto sintetiza posições afinadas com aquelas empreendidas pela linha de pesquisa ‘Representações: imaginário e tecnologia’ (RITe), abrigada no NaWeb, organizada como grupo de pesquisa CNPq homônimo, e que se constitui desde a data de divulgação do manifesto também como mais um CRI (Centre de Recherches sur l’Imaginaire) sediado no Brasil, associado ao CRI2i.
O conteúdo do manifesto é o seguinte:
1. Desde a publicação de “As estruturas antropológicas do imaginário” e da fundação do primeiro CRI (Centre de Recherches sur l’Imaginaire) por Gilbert Durand em 1966 na Universidade de Chambéry, França, as pesquisas sobre o imaginário conheceram crescente desenvolvimento: extensão em diversas disciplinas (Literatura, Sociologia, Psicologia, Educação, Filosofia, Artes etc.), expansão geográfica através da criação de dezenas de grupos de pesquisa, da Coréia ao Brasil, passando pela América do Norte e toda Europa.
2. Durante esse período, o imaginário se tornou um conceito consistente e operatório ao lado da racionalidade para melhor compreender as discursividades e as práticas tanto individuais quanto coletivas, a ponto de a palavra conhecer uma generalização e uma plasticidade equívocas que acompanham sua adoção por diversas ciências sociais. A refundação do CRI2i em 2012 corresponde a uma vontade dos pesquisadores a voltar aos fundamentos epistemológicos e metodológicos para melhor se distinguir de orientações advindas do enfraquecimento teórico e dos usos abusivos do imaginário nas fronteiras das modas e das publicidades.
3. A partir do II congresso do CRI2i em Porto Alegre, chegou a hora de abrir um novo período de desenvolvimento das pesquisas baseadas sobre: 1) uma confirmação, retificação e atualização das ferramentas teóricas através da confrontação heurística e dinâmica das correntes de pesquisa convergentes: semiótica, semilogia, narratologia, psicologia das profundezas, neurociências etc.; 2) a consideração dos novos objetos e domínios de emergência do imaginário: mídias digitais, games, séries televisivas, robótica, práticas artísticas pós-figurativas, arquitetura e urbanismo, design, prospectiva, saúde e terapias, comunicação política, administração e empreendedorismo, inovação tecnológica, indústrias culturais, interculturalidade etc.
4. Nesse contexto, o CRI2i deseja se reforçar e se impor como plataforma multidisciplinar e internacional de pesquisas sobre as imagens, a imaginação e o imaginário na trilha do estruturalismo figurativo, da hermenêutica simbólica e da fenomenologia das iconosferas. Ele se destina a coordenar, encorajar, validar, valorizar os trabalhos de equipes e de pesquisadores individuais. O CRI2i deseja ajudar também a identificar e estimular novos territórios e projetos de pesquisa, a relacionar os trabalhos teóricos com os campos de aplicações práticas, a buscar fontes de financiamentos institucionais e propostas dos meios profissionais que esperam cada vez mais a competência especializada e o aconselhamento.
5. Assim, o CRI2i deseja mais do que nunca testemunhar o lugar irredutível do imaginário nas sociedades e culturas e defender a legitimidade e a urgência do recurso ao imaginário, ao poético, ao simbólico e ao mítico enquanto inclinação noturna do anthropos. O imaginário deve permitir o contraponto ao risco de uma instrumentalização da racionalidade frequentemente a serviço de interesses econômicos e financeiros num mundo globalizado. Os trabalhos sobre o imaginário devem se tornar espelho e investimento essencial das Ciências Humanas e Sociais e uma alavanca fundamental para implementar um verdadeiro humanismo, respeitoso de uma antropologia integral.